Kisuke... De humano a monstro

[OFF]Uma coisa muito grande pra colocar na ficha, e como não vai influenciar em nada aqui no fórum (pelo contrário, vai ajudar a mestragem), eu resolvi colocar essa história aqui... Aproveitem

O céu estava tão bonito... A cidade costumava ficar assim em dias claros, graças às poucas indústrias e baixa poluição. Porém, a vida ainda é a vida, e as pessoas ainda fazem o que tem de fazer...

Kisuke vinha andando pelas ruas carregado de sacola, a sua expressão era cançada, e ele levanta o pulso, checando um relógio.

Kisuke: Droga... Se eu não andar logo eu vou me atrasar pro trabalho...

Ele suspira e olha para cima.

Kisuke: Eu também não podia ter parado pra ficar olhando as decorações...

De repente, alguma coisa, de tamanho relativamente pequeno, salta sobre Kisuke, agarrando-o.

Hanako: Oni-chan!!!

Kisuke se desequilibra e quase cai, derrubando algumas sacolas, por sorte não dando ele mesmo de cara no chão.

Kisuke: H-Hanako!?

Sua irmãzinha, nada mais que uma criança, permanecia abraçada às suas costas, sorrindo contente.

Hanako: Oni-chan! Eu te encontrei voltando pra casa!

Kisuke: Mas é claro, eu tinha que fazer compras, pra você não morrer de fome.

Hanako: Oni-chan ainda tenta parecer legal... Você não consegue cozinhar um ovo. Hanako é quem acaba tendo que cozinhar tudo

Kisuke cora de vergonha.

Kisuke: Você não precisa acabar comigo assim...

Ele começa a recolher as sacolas do chão, enquanto sua irmã o solta, retornando ao chão.

Kisuke: De qualquer jeito, você me disse que ia ter aulas extras hoje. O que houve hein?

Hanako: Eu fugi.

Kisuke tomba ao ouvir aquilo.

Kisuke: V-Você o que!?

Hanako: Eu queria ver você oni-chan.

Sem dizer nada, Kisuke segura a mão dela, carregando as sacolas com a outra mão, e a puxa rua abaixo.

Kisuke: Você vai voltar pra escola agora.

Hanako tentava se livrar, sendo arrastada pela firme mão de Kisuke.

Hanako: Não! Eu não quero! Eu quero voltar pra casa também! Oni-chan!!!

Mais tarde, Kisuke Tinha a cabeça baixa na frente de um senhor de aparentes 40 anos.

Sr. Oshinawa: Você está atrasado de novo hoje Kisuke

Kisuke: Me desculpa Sr. Oshinawa...

Sr. Oshinawa: Você é um bom funcionário, mas eu preciso de gente que chegue aqui na hora, caso contrário sou eu quem vou pagar o preço. Você me entende?

Kisuke: Sim senhor... É que a minha irmã...

Kisuke é cortado.

Sr. Oshinawa: Não me importa. Resolva seus problemas pessoais antes de vir pra cá Kisuke. Pode voltar ao trabalho.

Kisuke: Sim senhor...

Desanimadamente, Kisuke volta para seu lugar atrás do balcão. Próxima, ao lado dele, estava uma garota de cabelos castanhos bem claros, que encara Kisuke com um olhar simpático.

Kaori: Ele foi muito duro com você?

Kisuke: O que você acha...?

Kaori: Não liga pra isso, é que o meu pai leva os negócios bastante a sério.

Kisuke: Você acha...?

Ela dá risada.

Kaori: Você também não devia chegar atrasado Kisuke.

Kisuke pressiona o punho, nervoso.

Kisuke: É tudo culpa da Hanako! Se eu não tivesse que levar ela de volta pra escola antes de deixar as compras em casa, eu talvez tivesse chegado a tempo.

Kaori rapidamente vai até Kisuke e lhe dá uma dedada na testa.

Kaori: Não começa a falar assim da sua irmã. Ela é só uma criancinha.

Kisuke: Mas...

Kaori: Kisuke...

Ela lhe dá um simpático sorriso, observando-o bem de perto.

Kaori: Não deveria tratar as garotas assim...

Ela falando aquele tipo de coisa daquele jeito deixava Kisuke sem graça, e ele cora, tentando não encará-la nos olhos.

Kisuke: T-Tá...

Kaori volta ao seu lugar, arrumando alguns itens da loja

Kaori: Você ainda tem que estudar matemática hoje. Nossa prova é na semana que vem e as suas notas não estão boas

Kisuke: É...

Kaori: Se você bombar nessa prova vai pagar o maior mico. Eu te ajudo a estudar

Kisuke: Obrigado...

Assim eram os dias de Kisuke... Eram cansativos e difíceis, mas de algum modo, pareciam valer a pena... Infelizmente tudo estava pra mudar...

Kisuke estava em casa estudando uma noite dessas, o livro aberto em sua frente, mas apesar de tudo não conseguia a concentração necessária.

Hanako: Oni-chan...

Ele olha para trás, e encontra sua irmã sonolenta com uma espécie de pijama, Kisuke sorri para ela

Kisuke: Eu te acordei? Desculpe... Volte a dormir

Hanako vai até ele.

Hanako: Mas oni-chan, já está tarde...

Kisuke: Oni-chan precisa estudar Hanako. Eu não tenho muito tempo pra fazer isso trabalhando na loja do senhor Oshinawa.

Hanako: Eles te tratam muito mal lá...

Kisuke: Isso se chama "começar por baixo". Com alguma sorte você não vai ter que passar por isso...

Dizia Kisuke sem tirar os olhos do livro, Hanako olha para ele por um tempo e depois sorri tavessamente

Hanako: Mas você bem que gosta de ir pra lá todo o dia.

Kisuke: Do que você tá falando?

Hanako: É que assim você pode ver a sua namorada todo dia

Kisuke quebra o lápis com o qual estivera escrevendo, e rapidamente se vira para a irmã;

Kisuke: A Kaori não é minha namorada!

Hanako: Ah, não? Achei que depois de todo esse tempo o relacionamento de vocês já tivesse avançado

Kisuke: Do que você tá falando!? A Kaori é só uma amiga!

Hanako dá risadas.

Hanako: Oni-chan, você fica tão bravo quando alguém fala disso

Kisuke se vira de volta para os seus livros, com o rosto escarlate

Kisuke: Não me enche...

Hanako dá mais algumas risadas.

Hanako: Anda, você sabe que tem que ser mais direto com uma garota, não é mesmo?

Kisuke: Eu não sei nada sobre isso. Além do mais, você deveria estar dormindo.

Kisuke se levanta e começa a empurrar a irmã, que se debate.

Hanako: Não! Oni-chan!

Kisuke: Eu tenho muito o que fazer amanhã sem precisar manter você acordada. Anda, você vai dormir ou então não vai conseguir assistir nenhuma aula amanhã.

Hanako: Mas oni-chan...!

Kisuke: Sem desculpas, anda...

Sob vários protestos, Kisuke é obrigado a colocar a irmã forçosamente de volta à cama...

No dia seguinte, o garoto fazia compras junto com a amiga Kaori, ele olhava um pacote do que parecia ser macarrão.

Kisuke: Acha que seu pai algum dia vai me promover?

Kaori: Eu não sei, ele não se impressiona tão fácil assim. Você teria que realmente surpreender ele. Não pega esse, aquelelá é mais barato e tem um sabor melhor

Diz ela ajudando Kisuke a escolher o pacote.

Kisuke: Quem sabe algum dia eu caia sem aviso na sala da sua casa.

Kaori: ISSO seria realmente dramático...

Os dois dão algumas risadas juntos.

Kaori: E a sua irmã?

Kisuke: Anda mais teimosa do que nunca.

Kaori: É natural na idade dela, você devia relaxar

Kisuke: Relaxar é a última coisa que eu posso fazer com a Hanako por perto...

Kaori: Já tem um tempo que eu não vejo ela. Se importa se eu for visitar vocês?

Kisuke fica como um pimentão apenas ao ouvir a idéia.

Kisuke: B-Bom... Seria óti... Isso é... Se você... Se você quiser...

Kaori: Mas é claro seu bobo, a idéia foi minha

Kisuke: A-Ah... É...

Agora ele checava um pacote de chá, Kaori suspira e tira o pacote da mão dele.

Kaori: Esse chá é de segunda... Aqui, você devia usar esse

Ela lhe entrega outro pacote.

Kisuke: O-Obrigado...

Kaori: Fala sério... O que você faria sem mim por perto?

Kisuke: Provavelmente tomaria muito chá ruim antes de acertar.

Kaori sorri.

Kaori: Se bem que, parando pra pensar, nós fazemos tanta coisa juntos... Parece até que a gente tá namorando, não é?

Kisuke deixa o pacote de chá cair e rapidamente balança as mãos.

Kisuke: N-N-Não! Isso não é verdade! Definitivamente essa não é a idéia que eu quero passar! S-Se você quiser pode ir embora!

Kaori: Calma, foi só uma brincadeira, não precisa ficar tão nervoso...

Uma vez acabada as compras, isso não impedia os dois de andarem lado a lado nas ruas.

Kaori: Uffffff... Até que enfim...

Kisuke: Você comprou tudo o que o seu pai precisa?

Kaori: É claro, afinal de contas é a minha vida em jogo nisso

Kisuke sorri.

Kaori: Então... Amanhã tá bom pra você?

Kisuke: Do que você tá falando?

Kaori: Eu não disse que ia visitar vocês dois?

Kisuke: Mas logo amanhã? Você tá com pressa?

Kaori: Algum problema?

Kisuke: N-Não... Nenhum...

Kaori: Eu tenho muito tempo livre, então passar ele com as pessoas que eu gosto não é nada.

Kisuke: Ah... Que bom...

Apesar disso, Kisuke não fala nada, Kaori o olha intrigada "Será que nem assim ele vai me chamar pra sair...?". Ela tenta reforçar a idéia...

Kaori: Isso mesmo... Eu tenho muuuuuuuuito tempo livre... Completamente disponível pra fazer qualquer coisa...

Kisuke: Quem dera se eu pudesse dizer a mesma coisa.

Kaori amarra a cara, não era bem essa a resposta que estava esperando. Os dois continuam andando, em silêncio por um tempo, por um lado seria bom, mas duas pessoas sem um relacionamento podem achar uma situação dessas um tanto quanto desconfortável...

Kaori: Ei... Kisuke...

Kisuke: Hm? O que foi?

Kaori: Eu tava pensando... Será que nós...?

Antes de completar essa frase, Kisuke dá um suspiro surpreso.

Kisuke: Ah! Olha!

Kaori o segue e ele rapidamente para frente à vitrine de uma loja.

Kaori: Ah... Essa é aquela loja de decorações que você gosta tanto, não é?

Ela olha para a vitrine, o olhar de Kisuke estava focado em apenas um objeto... Uma katana que exposta estava mais alta que todo o resto dos produtos, muito bonita e bem fabricada aparentemente

Kaori: É uma espada bonita...

Kisuke: É... Eu tenho parado aqui alguns dias pra ver essa espada... Eu não sei por que eu gosto dela... Ela parece... Parece tão poderosa...

Kaori: É mesmo...

Eles olham para a arma por mais um tempo, até Kaori retomar a conversa.

Kaori: E-Então Kisuke... O que eu tava querendo dizer é que nós...Esse jeito como a gente é...

Ela olha para Kisuke, que continuava vidrado na espada.

Kaori: Kisuke, você tá me ouvindo?

Kisuke: Com certeza ela deve ter uma história bem impressionante...

Kaori suspira desanimada "Aquela espada realmente tirou a atenção dele... Bom, tudo bem, eu falo amanhã", com um sorriso, Kaori torna a falar

Kaori: Eu vou indo na frente Kisuke, a gente se vê no trabalho. E tenta não se atrasar dessa vez, certo?

Kisuke nem ao menos responde nada, o que impressiona Kaori Nossa... É a primeira vez que eu vejo ele tão distraído com alguma coisa...", mas ainda sim, sorrindo ela se despede

Kaori: Então eu vou lá amanhã, certo Kisuke? Até mais.

Kaori vai embora, sem nem ao menos conseguir tirar o foco do colega. Kisuke continua com os dois olhos bem centralizados na katana, como se hipnotizado.

Kisuke: Ela é tão bonita... Onde será que ela foi usada...?

Encarando o vidro, Kisuke de repente consegue ver o reflexo atrás de si, uma garotinha atravessava a rua, e isso finalmente tirou sua vista da espada. Aparentemente ela perseguia o que parecia ser uma pipa, o garoto sorri, mas de repente se lembra de alguma coisa, olhando para os lados.

Kisuke: Kaori?

Ao não encontrar a colega, Kisuke podededuzir o que aconteceu, e então suspira.

Kisuke: Eu estraguei tudo...

O som alto de uma buzina, um carro popular vinha velozmente pela rua, na direção da garota, e Kisuke, sem nem ao menos piscar, bate em disparada.

Kisuke: CUIDADO!!!

Som... Apenas som... Dois corpos se chocando, alguém havia sido empurrado, e depois... O barulho do metal acertando alguma coisa, seguido pelo som das coisas de dentro das sacolas de Kisuke caírem ao chão...

Kisuke abre os olhos, se sentindo muito estranho, como nunca antes na vida... E não era à toa.

Kisuke: O que aconteceu...?

A primeira coisa que ele vê é uma multidão reunida, mas não ao seu redor, pareciam estar olhando outra coisa, e o trânsito parecia ter sido interrompido.

Kisuke: O que eles estão fazendo.

Com algum esforço, Kisuke se levanta, era incrível que estivesse sem um arranhão.

Kisuke: Ei... Alguém pode me ajudar...?

De repente, ele sente algo estranho ao andar, algo tão estranho que era bizarro não ter notado até então... A corrente saindo do seu peito. Kisuke a segura assustado.

Kisuke: O que é isso!?

A corrente levava para o meio da multidão, e é rapidamente para onde ele vai, podendo escutar as fofocas.

"Parece que o garoto foi atropelado"

"Coitado..."

"O motorista aparentemente fugiu"

"Parece que foi para salvar uma criança"

"A mãe já está aqui..."

Abrindo espaço para passar, Kisuke finalmente chega ao meio da multidão, apenas para encontrar ele mesmo caído no chão.

Kisuke: O-O que é isso!?

Ele via a corrente conectá-lo ao seu corpo, embora um dos elos estivesse perigosamente fraturado.

Kisuke: O que eu estou fazendo lá!?

Imediatamente se ajoelha ao lado do próprio corpo e o estapeia algumas vezes.

Kisuke: Acorda miserável! Acorda!

De tapas ele parte para socos no peito.

Kisuke: Levanta! Você ainda tá vivo!

Finalmente, uma ambulância chega ao local, e os médicos rapidamente saem para resgatar o ferido. Dois deles já até trazem uma maca, e se abaixam para checar o pulso de Kisuke.

Médico: O pulso está muito fraco! Anda, depressa!

Kisuke se afasta para que eles possam atendê-lo, embora isso não fizesse muita diferença. Enquanto colocam o corpo na maca, o elo de sua corrente se racha mais um pouco, o que o irrita.

Kisuke: Tomem cuidado!

Não que ele soubesse realmente o que aquilo fosse, mas considerando que o conectava ao seu corpo vivo, Kisuke assumiu que seria importante. Com velocidade de atendimento impressionante, os médicos levam a maca de Kisuke até a ambulância, ele os segue.

Médico: Vamos!

A porta traseira da ambulância se fecha com Kisuke ainda fora dela, ele olha para a corrente por um instante, a qual passava pela porta direto para dentro da ambulância, e com uma expressão enjoada, já sabendo o que vai acontecer...

A ambulância avançava disparada pelas ruas da cidade, e preso pela sua corrente da vida, Kisuke era arrastado como uma carroça humana.

Kisuke: AH!!!

Ele rola algumas vezes, incapaz de ficar de pé, as curvas sendo a pior parte.

Kisuke: VOCÊS ESTÃO QUERENDO ME MATAR DE NOVO!?

A chegada ao hospital não foi fácil, mas não era como se Kisuke fosse morrer de novo. Ele permanecia do lado de fora das cortinas de sua maca no atendimento de emergência, se recusando a ver o seu próprio estado. Ele olha para uma janela ao longe, já era tarde, quase de noite, e ele então suspira.

Kisuke: Além de atrasado, eu provavelmente não vou poder ir no trabalho por alguns dias. Será que o Sr. Oshinawa vai entender a minha situação...?

Ele vê alguém entrar pela porta do hospital, a visão o acalma um pouco, afinal de contas era Kaori. A garota não tinha seu sorriso e calma costumeiros, ao invés disso parecia incrivelmente preocupada e com pressa. Ela rapidamente vai até o balcão de entrada, seus pais entram um pouco depois dela.

Kaori: Com licença, um amigo meu acabou de ser trazido pra cá.

Enfermeira: O garoto que foi atropelado?

Kaori: O nome dele é Kisuke Itarashi, cadê ele?

Enfermeira: O seu amigo está na sala de emergência agora, então não podemos deixar ninguém entrar.

Kaori: Por favor, você tem que me deixar ver ele!

Enfermeira: Sinto muito. Uma equipe já está cuidando dele agora mesmo, e assim que puder, o médico vai vir falar com vocês.

Kaori parecia numa vontade tremenda de num único impulso invadir o local, mas a semre controlada garota se contêm.

Kaori: Tá... Tá bem...

Horas se passam, Kaori espera impacientemente ao lado de seus pais, Kisuke havia resolvido ficar por lá também.

Sra. Oshinawa: Não se preocupe querida...Tenho certeza de que ele vai ficar bem...

Kaori, porém, nada responde, e Kisuke vê a sua corrente rachar mais um pouco, agora estava tão ruim que provavelmente um único puxão a destruiria.

Kisuke: Kaori! Acima de tudo você não pode me deixar morrer!

De repente, mais alguém entra no hospital, a pequena irmã de Kisuke, mas não tão conservada ou madura como Kaori, ela simplesmente vai entrando no lugar.

Hanako: Oni-chan!

Kaori rapidamente se levanta e a segura Hanako, impedindo-a de no ímpeto fazer algo que não devia.

Hanako: Oni-chan!

Kaori: Calma Hanako-chan...

Hanako olha para ela triste.

Hanako: A namorada do oni-chan...

Dada a situação atual, Kaori resolve não se distrair com a forma como ela a chama.

Kaori: Nós não podemos entrar ainda

Hanako: Mas o oni-chan...!

Kaori a abraça para acalmá-la.

Kaori: Já tém um monte de pessoas excelentes atendendo ele... Os melhores médicos aqui no hospital... Ele vai ficar bem...

Embora ela dissesse isso, sua voz não soava com muita convicção.

Kisuke: É bom que sejam os melhores mesmo...

Horas a fio se passaram, Hanako era a que parecia mais impaciente, os pais de Kaori resolveram tomar um café enquanto esperavam, e Kaori não ousou sair do lugar nem por um instante, apenas vigiando Hanako. Kisuke estava sentado ao lado delas, parecendo cansado também.

Kisuke: Vocês nem vão acreditar na história que eu vou ter pra contar pra vocês... Morrer não é tão fácil assim...

Ele enche o peito, animado.

Kisuke: Com certeza eu vou cair nas graças da Kaori depois de ter feito isso pra salvar uma criança.

Imediatamente, ele se esbofeteia.

Kisuke: Cala a boca Kisuke! Isso é hora pra estar pensando nesse tipo de bobagem!?

Sua corrente racha mais um pouco, agora um mero fio de metal a segurava. Kisuke rapidamente se ajoelha em frente a ela.

Kisuke: Ah não...

Ele fica revoltado.

Kisuke: Que droga vocês estão fazendo comigo aí dentro!?

Kaori: Kisuke...

Ele olha para ela, apesar de ela não fazer o mesmo.Kisuke repara que sua mão aperta a própria perna com força, muito nervosa.

Kaori: Por favor... Volta...

Hipnotizado por um instante pela tamanha preocupação da amiga, Kisuke continua olhando para ela, até que de repente... A sua corrente finalmente se rompe, o que traz sua atenção de volta ao que estava fazendo antes.

Kisuke: A-Ah!

Ele rapidamente pega os dois elos da corrente, e tenta encaixá-los.

Kisuke: Anda... Anda...

Suas tentativas são inúteis, um pedaço não se unia ao outro.

Kisuke: Não... Não...

Ele olha para a sala de emergência.

Kisuke: Será que agora... Eu morri mesmo...?

Mais alguns minutos se passam no qual Kisuke continua tentando conectar a sua corrente, até que o médico vaiatéo saguão, conversa com a enfermeira no balcão, ela lhe aponta o grupo de Kaori, e então se dirige até eles. Ao ver que o assunto era sobre Kisuke, todos eles rapidamente se levantam, e nem ao menos esperam o médico iniciar a conversa.

Kaori: Como ele tá doutor?

Hanako: O que aconteceu com o meu oni-chan!?

O médico olha para elas tristemente.

Médico: Vocês são os parentes do garoto...? Kisuke Itarashi...?

Kaori: Isso mesmo.

O médico suspira.

Médico: O Kisuke chegou aqui com vários ferimentos... A maioria de seus órgãos havia sido danificada e estava sofrendo de hemorragia interna massiva... Nós trouxemos ele para o atendimento de emergência e... Fizemos tudo que podíamos até agora. Mas... O garoto... O Kisuke...

Hanako e Kaori arregalam os olhos, já sabendo o que ele ia dizer, apenas pelo tom em sua voz.

Médico: Faleceu há alguns instantes atrás...

Hanako: NÃO!!!

Hanako começa a esmurrar o médico.

Hanako: Não é verdade! O oni-chan ainda tá vivo! Volta lá e traz ele de volta!

Kisuke se levanta revoltado atrás do médico.

Kisuke: Isso mesmo seus inúteis! E vocês se consideram um hospital de primeira linha!? Voltem pra lá e me coloquem de volta dentro do meu corpo!

Kaori cai de joelhos, seus olhos ainda vidrados, como se a notícia ainda não tivesse sido completamente processada em sua mente.

Kaori: Kisuke...

Uma lágrima escorre de seu olho.

Kaori: BAKA!!!

Algum tempo depois, foi permitido que Hanako e Kaori vissem Kisuke, apesar de ele nãoestar mais vivo. Pelo menos suas feridas agora estavam tratadas. Do outro lado da cama, Kisuke, com sua meia corrente pendurada no peito, pensava num jeito de como sair daquela situação.

Kisuke: Anda... Acorda...

Ele tenta dar um mergulho no próprio corpo, mas o atravessa direto, bem como a cama, e dá de cara no chão. Ele se levanta furioso.

Kisuke: Eu não posso morrer ainda!

Hanako: Oni-chan...

Dizia sua pequena irmã tentando engolir o choro, e segurando a mão de seu corpo.

Hanako: Por favor... Acorda... Essa brincadeira não tem graça...

Kaori: Kisuke...

Ela coloca a mão no seu rosto, parecendo ainda tão triste quanto Hanako.

Kaori: Por quê...?

Kisuke esfrega a cabeça, nervoso de não conseguir pensar em nada.

Kisuke: O que eu vou fazer agora!!!???

Alguns dias se passaram, e agora era o enterro de Kisuke. Não era nada muito chique ou grande. Como tradicionalmente no Japão, a família realizava um memorial ao falecido em sua casa, como o apartamente de Kisuke e Hanako era muito pequeno para isso, este memorial foi feito na casa de Kaori. Não havia muita gente, um punhado de colegas da escola, o Sr. e a Sra. Oshinawa, e ajoelhadas na frente, Kaori e Hanako.

Kisuke observava o memorial ao lado delas, analisando a festa.

Kisuke: Até que eles não fizeram um trabalho ruim...

Ele soca o próprio rosto, revoltado.

Kisuke: Cala a boca Kisuke! Esse é o seu enterro! Não é pra ficar admirado!

Hanako não conseguia parar de chorar encarando o retrato de Kisuke à frente de todos.

Hanako: Oni-chan...

Ela tenta rapidamente ir até lá.

Hanako: Oni-chan!!!

Kaori tem que rapidamente segurá-la, e a abraça para impedi-la.

Hanako: Me desculpa!!! Hanako vai ser uma boa garota! Eu vou pra escola todo dia! Desculpa por ter falado que você cozinhava mal! Oni-chan!

Aparentemente perdendo o fôlego, Hanako continua apenas chorando, enquanto Kaori a abraçava em consolo.

Kisuke: Hanako...

Kaori: É tudo minha culpa...

Ela olha para trás, também encarando triste a fotografia de Kisuke.

Kaori: Se eu não tivesse ido embora naquela hora... Se eu tivesse ficado com você... Você ainda estaria vivo... É tudo minha culpa... Kisuke...

Ela também fecha os olhos, chorando.

Kaori: Droga!

Kisuke olha para as duas, aparentemente apenas na hora da morte é que pôde perceber o quanto aquelas duas gostavam dele.

Kaori: Kisuke... Não era pra você me deixar... Você não podia...

Pensando ainda por mais um tempo, Kisuke se senta, observando a cena em sua frente, seu olhar sério e decidido pela primeira vez desde que morrera.

Kisuke: Não se preocupem... Kaori... Hanako... Mesmo que não possam me ver... Ou me ouvir... Eu não vou pra lugar algum...

Poucos dias haviam se passado desde o enterro de Kisuke, e a perda ainda era possível de ser sentida àqueles próximos. Kaori acabava de sair do mercado, cheia de sacolas, e andava desanimada pelas ruas, Kisuke andava ao seu lado.

Kisuke: Pelo menos a Kaori é muito melhor pra fazer compras do que eu...

Kaori continua apenas encarando o chão, triste.

Kisuke: Anda Kaori... A gente não pode mais conversar, mas eu ainda estou aqui.

No meio da caminhada, os dois acabam passando pela mesma loja de decorações a qual Kisuke gostava tanto, Kaori pára para observar o lugar, e contempla a espada a qual seu amigo costumava ficar olhando, Kisuke olha para ela também.

Kisuke: Ah... É verdade... Se não fosse essa espada a garotinha teria morrido ao invés de mim. Então Kaori, você não precisa...

Porém, amargurada, ela vai embora, Kisuke nada podia fazer, nem ao menos para consolá-la.

Kisuke: Ah, Kaori...

Algum tempo depois, Kaori abria a porta, mas não era de sua casa, era da casa de Kisuke.

Kaori: Hanako-chan!

Kaori não encontra ninguém logo na entrada, ela tira os sapatos e arranja um local onde deixar as sacolas, para poder procurar Hanako.

Kaori: Hanako-chan?

Ela encontra Hanako em seu quarto, alguns livros sobre a mesa, mas Hanako estava encolhida, recostada contra a parede oposta.

Kaori: Hanako-chan... Você tá bem...?

Kaori vai se sentarao seu lado.

Hanako: Eu sou burra...

Kaori: Do que você tá falando?

Hanako: Eu queria ir bem na escola pra deixar o oni-chan orgulhoso de mim, mas eu não consigo... Eu não consigo me concentrar...

Kaori olha para os livros e percebe que pela condição da garota, ela provavelmente não teria conseguido ficar 5 minutos na frente de nenhum deles.

Kaori: Hanako-chan... Você não é burra...

Hanako: É sim! Se a Hanako fosse mais inteligente... Se eu pudesse me cuidar sozinha, o oni-chan... Ele ainda estaria...

Hanako torna a chorar, e Kaori rapidamente a abraça.

Kaori: Calma... Não é sua culpa... E eu tenho certeza que o Kisuke sente muito orgulho de você...

Kisuke, que estava por lá, mostra um sorriso.

Kisuke: Isso mesmo Hanako...

Kaori: Você não precisa ficar assim... Eu tenho certeza que o Kisuke deve estar muito preocupado com você. E se ele estivesse aqui, ele provavelmente diria alguma coisa do tipo...

Kisuke: Vamos, é hora de começar a trabalhar.../Kaori: Vamos, é hora de começar a trabalhar...

Dizem os dois em uníssono, o que faz Kisuke se sentir bem em sabe o quanto ela o conhecia bem. Kaori finalmente parece conseguir acalmar Hanako.

Kaori: Não se preocupa... Eu sei que eu não sou o seu irmão, mas eu vou estar sempre aqui pra você...

Hanako: Kaori-san...

Kaori: Afinal de contas, o Kisuke era muito especial pra mim também... E você também é...

Kaori ajuda Hanako a se levantar.

Kaori: Vem anda... Eu vou te ajudar a estudar.

Hanako sorri.

Hanako: Tá certo...

Kaori fica mais feliz por ter conseguido ser de alguma ajuda.

Kaori: Anda... Depois a gente come alguma coisa... Eu comprei aqueles bolinhos que você gosta.

Hanako: Sério...?

Kisuke sorri ao ver que as duas podiam se dar tão bem assim.

Kisuke: Talvez isso seja mais fácil do que eu imaginei...

Meses se passaram desde que Kisuke havia morrido, mas ele ainda estava por perto, aguardando em frente à lojado Sr. Oshinawa.

Kisuke: Anda logo Kaori!

De repente, Kaori sai correndo da loja.

Kaori: Pai! Eu estou saindo! Eu vou passar o resto do dia com a Hanako-chan, então não me espere pro jantar!

Sem nem ao menos esperar resposta, ela vai embora, Kisuke a segue.

Kisuke: E-Ei! Kaori!

Kaori corre pelas ruas, Kisuke atrás dela.

Kisuke: Por que será que ela tá tão feliz...?

Finalmente Kaori chega até onde queria... Era a mesma loja de decorações da qual Kisuke gostava, embora ele não soubesse exatamente o que estavam fazendo ali.

Kisuke: Essa loja de novo... O que será que ela veio fazer aqui?

Kaori olhava deslumbrada para um único item na vitrine... A mesma espada com a qual Kisuke costumava ficar admirado.

Kisuke: Ahn? O que ela tá fazendo...?

Kaori: Eu economizei por tanto tempo... Finalmente eu posso fazer isso.

Ela entra na loja muito contente.

Kaori: Senhor...!

Pouco tempo depois, ambos vinham pela rua, agora mais calmos, Kaori carregava o embrulho como se fosse o melhor presente já ganho até agora.

Kisuke: Eu não acredito que você comprou essa coisa mesmo...

Kaori: Agora nós dois podemos ficar olhando pra ela Kisuke...

Kisuke sorri, mesmo morto parecia que os dois ainda de algum jeito podiam se comunicar. Kaori chega à antiga casa de Kisuke como se fosse o local mais natural para se estar.

Kaori: Hanako-chan!

Hanako: Ah... Kaori-san!

Hanako saía da cozinha tristemente.

Hanako: Eu fiz besteira de novo...

Kaori: O que foi?

Pergunta ela descansando o embrulho sobre uma mesa de canto.

Hanako: Eu não consigo fazer os bolinhos...

Kaori sorri.

Kaori: Eu já não disse que você tem que deixar o arroz cozinhar mais? Anda, vem cá...

Assim, Kaori vai à cozinha ajudar Hanako. As duas jantando juntas agora parecia tão natural, como se fossem irmãs, e Kisuke, sentado próximo a elas, estava contente de ver que ambas estavam se virando muito bem.

Kisuke: Que bom, elas parecem que já estão bem melhores. Mas...

Ele olha para a corrente no próprio peito, se lembrando de como ela era antes, e como ela estava agora, principalmente pelo fato de obviamente ter encurtado bastante.

Kisuke: Eu tenho quase certeza que esse negócio tá encolhendo...

Em algum lugar pela cidade, uma forma monstruosa se movia silenciosamente, imperceptível aos seres humanos normais...

Kisuke aguardava na frente da escola, os braços cruzados, e uma certa impaciência que deixava transparecer

Kisuke: Droga... Quanto tempo mais...?

Finalmente, Kaori vem vindo na direção do portão, o que faz Kisuke sorrir.

Kisuke: Ah... Lá está ela...

Sem dizer nada, Kaori chega ao portão, e lá permanece,como se também esperasse alguma coisa.

Kisuke: Você podia falar sozinha por um tempo enquanto ela não chega.

Incapaz de ouvi-lo, Kaori não solta um pio, então os dois simplesmente aguardam. Alguns instantes depois, eles finalmente encontram quem queriam encontrar, e Kaori já se levanta, acenando.

Kaori: Hanako-chan!

Hanako, que também acabar de sair da escola, encontra a amiga com um sorriso e vai correndo até ela.

Hanako: Kaori-san!

Kaori: Como foi o seu dia?

Hanako: O professor disse que eu sou uma das alunas mais inteligentes da classe.

Kaori: Claro que é.

Hanako: Além disso, nós vamos fazer uma pesquisa de campo amanhã.

Kaori: Ah, é mesmo?

Enquanto as duas vão andando, Kisuke as segue, apenas ouvindo a conversa.

Kisuke: O dia dessas duas parece muito melhor do que os meus algum dia foram...

Algum tempo depois, os três estavam parados, mas não de volta em casa, e sim no cemitério. As duas garotas haviam dado uma pausa para prestar lembranças a Kisuke. Hanako é quem coloca algumas flores sobre o túmulo.

Hanako: Oni-chan... Hanako está com saudades de você... Mas tudo bem... Tudo tem corrido bem por enquanto. Tem tanta coisa que eu preciso te contar...

Kaori: Anda Hanako... Nós ainda temos que voltar pro almoço.

Kisuke: Não precisa ter pressa Kaori...

Kisuke se senta em cima de seu túmulo, e encara a irmã.

Kisuke: Então... Hanako... Como foi o seu dia?

Hanako: O professor me elogiou hoje, a Hanako está indo muito bem na escola...

Kisuke: Isso é bom... Desse jeito eu não vou precisar assombrar você.

Hanako: Ontem nós comemos sopa de barbatana de tubarão no almoço, hoje a Kaori-san disse que ia me ensinar a fazer arroz de panela.

Kaori: É porque ela gosta tanto disso que eu resolvi ensinar...

Kisuke: Você tá mimando ela demais Kaori...

Kaori: Mas não se preocupa... Eu não vou mimar ela demais...

Diz Kaori passando a mão na cabeça de Hanako.

Kisuke: Você é muito mole nessas horas Kaori...

Hanako: Oni-chan, sua namorada tá cuidando bem de mim.

Kisuke: Nós não somos namorados!/Kaori: Nós não somos namorados!

Dizem os dois uniformemente, embora Kaori fosse a única capaz de ser ouvida, Hanako sorri.

Hanako: Ela reage da mesma maneira quando eu falo isso oni-chan...

Kaori: Ah, Hanako-chan...!

Kisuke: Você realmente precisa prestar atenção no que você fala...

A conversa dura mais um tempo, até que as duas precisam ir embora. Hanako se despede do túmulo como se de uma pessoa, o que era bom, já que Kisuke estava sentado sobre ele.

Hanako: Até mais oni-chan... Eu vou voltar mais vezes.

Kaori: Vamos Hanako-chan...

Hanako: Tá.

Hanako vai indo embora, Kaori permanece frente ao túmulo.

Kaori: É uma ótima irmã que você tem Kisuke... As coisas tem ido bem por aqui. Um pouco solitárias sem você, mas nós sobrevivemos de alguma forma... Eu... Sinto saudades de você...

Kisuke: Se ao menos me ouvir você pudesse, não sentiria

Kaori: Continua olhando pra gente Kisuke... Nós não vamos te desapontar...

Ela se abaixa e toca o túmulo,Kisuke olha para ela, embora ela não o olhasse diretamente.

Kaori: Você foi muito especial pra mim... E eu queria que você soubesse disso. É até estranho... Mesmo dessa maneira eu ainda posso sentir como se você estivesse do meu lado todos os dias. Isso é bom... Tem me ajudado a passar os dias... Eu nunca vou esquecer você... Eu só queria... Só queria saber se você também não vaime esquecer...

Kisuke sorri para ela.

Kisuke: Que pergunta mais óbvia...

Hanako: Kaori-san!

Kaori se vira, e sorri ao ver Hanako lhe chamando.

Kaori: Eu tenho que ir indo Kisuke...

O garoto suspira, enquanto Kaori se vira.

Kaori: Ah, é verdade. Não é pra você se preocupar, a sua irmã é ótima, e faz cada dia valer a pena. Eu vou cuidar bem dela pra você...

Kisuke: Pode ser... Mas ela com certeza deve deixar você exausta no final do dia.

Kaori: Não. Não deixa não...

Kisuke arregala os olhos, enquanto Kaori vai até Hanako como se nada tivesse acontecido.

Kisuke: Ela me ouviu...?

O garoto de repente ouve o som de algo sendo roído, ele olha para a corrente, e vê que a mesma havia criado bocas para comer a si própria.

Kisuke: Ah, não, essas coisas de novo!

Kisuke rapidamente as golpeia, não podendo nem ao menos pegar uma pedra para ajudá-lo nisso.

Kisuke: Parem! Vão embora!

Apesar de tudo, a corrente só pára até mais um elo ter sido comido. A corrente de Kisuke encurtara bastante desde que havia morrido, e a idéia do que poderia acontecer quando ela terminasse o assustava...
Kisuke estava sobre a mesa num canto do quarto de Kaori, e ele observava a garota estudar.

Kisuke: Se você ao menos soubesse como é chato ser um fantasma...

Kaori: Então essa é a relação entre os dois...

Dizia Kaori focada em seus estudos.

Kisuke: Entende do que eu estou falando?

Diz Kisuke ironicamente pelo fato de ela ter acabado de "ignorá-lo". Ele desce da mesa, como se estivesse na própria casa.

Kisuke: Bom... Eu vou checar a Hanako, então até amanhã Kaori.

Ele continua olhando para ela, mesmo depois de dizer isso.

Kisuke: Eu disse que eu já vou indo Kaori.

Apesar disso, ela nem ao menos ligava para ele, ainda compenetrada nos estudos.

Kisuke: Como eu imaginei... Você não pode me ouvir, não é mesmo...?

Ele suspira e vai embora.

Kisuke: Até amanhã...

Caminhando pelas ruas, Kisuke apenas se indaga sobre o que havia acontecido mais cedo

Kisuke: Não foi como das outras vezes quando nós só pensávamos da mesma maneira... Ela reagiu e respondeu... Como se realmente tivesse me ouvido. Talvez haja alguma maneira de eu me comunicar com as pessoas aqui.

Ele olha para a própria corrente, agora já bem pequena.

Kisuke: Se houver é bom eu descobrir como rápido, porque eu não tenho um bom pressentimento sobre o que vai acontecer quando essa coisa chegar no final...

De repente, ele ouve o som de alguma coisa, fora como um sussurro tenebroso que passara bem rápido e chama sua atenção. Porém, olhando ao redor, não havia ninguém

Kisuke: Eu realmente estou pirando agora...

Mas de repente, a mesma coisa, agora Kisuke sabia que não era besteira.

Kisuke: Quem está aí!?

Agora o sussurro se tornara constante, mas ele não podia definir de onde vinha, então olhava para todos os lados à procura da fonte.

Kisuke: Quem é você!?

De repente tudo fica escuro, e imediatamente clareia de novo, mas Kisuke parecia ter sido transportado para um lugar completamente desconhecido, uma espécie de deserto...

Kisuke: O que... Aconteceu...?

Ele olha para trás, mas apenas consegue ver uma forma negra antes de ser acertado, e tudo se apaga...
Kisuke abre os olhos de novo, e vê uma forma parada, observando-o... Ele não conseguia identificar exatamente o que era, mas aparentemente estava usando uma espécie de máscara.

Kisuke: Quem... É você...?

Dizia Kisuke ainda desorientado pela pancada.

Garoto tolo... Quem eu sou não importa... E quem você é também não... Você é simplesmente... O meu jantar...

Aquela coisa abre a boca, se aproximando de Kisuke, e a cena a seguir é preenchida pelos gritos dele...

Kisuke lentamente abre os olhos... A sensação era de uma noite incrivelmente mal dormida...

"O que aconteceu...?"

No entanto, o próprio fato de abrir os olhos já era estranho... Sua visão era estranha... Era como se fosse ele e ao mesmo tempo não fosse. Como se estivesse vendo através dos olhos de outra pessoa, e se sentisse dentro do corpo dela.

"Eu me sinto estranho..."

Ele olha ao redor...

"O que eu estou fazendo aqui...?"

De repente, ele sente alguma coisa. Não sabia exatamente o que era, era como um faro, mas sem cheiro, apenas conseguia identificar alguma coisa, e sabia exatamente de qual direção... Aquele sentimento, aquela presença lhe davam uma sensação estranha... Era fome...

"O que é isso...?"

Como se se movesse por conta própria, Kisuke vai andando na direção da qual a sensação vinha

"Eu preciso... Preciso chegar até lá..."

E sua pressa era tamanha de chegar que Kisuke começa a correr, nem ao menos percebendo que o próprio fato de correr era diferente... Ele agora corria sobre quatro patas...

Ele consegue realizar saltos poderosos até os telhados das casas, e sua velocidade era impressionante, mas nada disso lhe importava... Apenas precisava chegar lá...

Caminhando por cima de um dos telhados, ele consegue ver... Um parque, e a essa hora da noite, não havia mais ninguém... Exceto uma pessoa... Mas não era uma pessoa qualquer, ela brilhava fracamente, e podia-se ver a mesma corrente que Kisuke até há pouco tempo tinha... No lugar onde agora não sentia nada... Era vazio... Apenas um buraco...

Kisuke tinha certeza, aquele sentimento, aquela presença, aquela aura fustigante que o agitava de uma maneira fora de controle vinha. Era instinto... Instinto animal... Instinto predador... Seu estômago roncava, brigava com Kisuke, exigindo, demandando a refeição à sua frente.

"Fome... Eu estou com muita fome..."

Ele observa bem o espírito caminha vagarosamente no parque, seus olhos focados em nada mais além de seus movimentos.

"Fome... Fome...! COMIDA!!!"

Sem pensar duas vezes, Kisuke dispara contra o Plus como uma pantera que acaba de sair da tocaia, e este, ao ouvir alguma coisa se aproximando, já era tarde demais...

E enquanto Kisuke saboreava aquela refeição, aquela energia, pedaço a pedaço, uma nova sensação toma conta dele.

"É bom..."

Isso mesmo... O efeito daquilo era mais potente e prazeroso do que qualquer droga existente no mundo... Era algo novo em sua vida... E logo após a primeira dentada, Kisuke podia sentir... Que já estava viciado...

"Essa sensação é MARAVILHOSA!!!"

Esses são seus pensamentos, que se manifestam apenas na forma de um alto rugido, o único som o qual ele agora emitia... Kisuke agora se transformara em algo completamente diferente...

As noites são mais curtas, e preenchidas pelas caçadas agora, Kisuke faz o que seus instintos lhe mandam fazer desde a primeira noite como hollow, procurar Plus e devorá-los... E cada um que ele encontra apenas aumenta seu desejo... Sua necessidade... Para partir para o próximo.

Apesar de tudo, Kisuke ainda não era visível às pessoas normais, o que o permitia vagar livremente, e esse era o caso em um certo dia, quando ele vinha cruzando uma das ruas de sua cidade.

"O próximo... O próximo..."

De repente, ele sente alguma coisa, mas era diferente, até mesmo dos Plus dos quais estava acostumado a se alimentar... Era ainda melhor... Ele olha para o lado e pode ver que Kaori andava pelas ruas, embora seus instintos falassem mais alto que sua memória. Se os prato que Kisuke tinha provado até agora fossem parte de um buffet, ela definitivamente seria o prato principal.

"Essa sensação... É a mesma sensação... Comida!"

Ele se prepara para avançar, mas outra coisa lhe chama a atenção, era uma espécie de rugido, talvez outro predador, Kisuke apenas entende que essa sensação o faz recuar... Haveria outra oportunidade... O que ele não sabia era que ela chegaria tão cedo...

Noite... Um garotinho morto, isso é perceptível pela corrente pendendo de seu peito, mas ele corria, corria como se o demônio o estivesse perseguindo, quase nem conseguindo recuperar seu fôlego... Kisuke vinha logo em seu encalço, a impaciência para alcançá-lo o faz correr mais rápido.

"Comida! Comida!!!"

O garotinho corre como se não houvesse amanhã pelas ruas e do mesmo jeito Kisuke estava para alcançá-lo, mas ele de repente pára... Era a mesma sensação do outro dia... Aquela sensação, seu instintio o impulsionando... De onde ela vinha? Ele olha ao redor, e finalmente localiza a fonte... Vinha de uma janela... A janela de seu antigo apartamento...

"É ela..."

Dentro do apartamento, Kaori e Hanako comiam juntas, cada uma com uma tigela de arroz.

Kaori: E esse senhor estava realmente desesperado pra comprar aquelas botas

Hanako sorria.

Hanako: Sem nada no bolso?

Kaori: Absolutamente nada. Eu disse que não podia dar alguma coisa da loja de graça pra ele, então ele...

Kisuke do lado de fora riscava o asfalto com suas garras, suas patas ainda firmes no chão, embora uma força semelhante a um trator às suas costas tentava impulsioná-lo para frente.

"É essa sensação de novo... Eu vou enlouquecer... Comida... Eu preciso... Eu preciso... COMER!!!"

Era o que tinha de ser feito, então Kisuke imediatamente pula contra a parede do apartamento, e ela é derrubada como se por uma bomba, e sem dúvida é isso que as pessoas do prédito devem ter pensado. Kaori e Hanako dentro do apartamento são lançadas para o lado pelos destroços. Kaori, machucada pela repentina explosão da parede, rapidamente tenta se levantar.

Kaori: Hanako? Hanako!?
Em outro canto, Hanako estava na mesma situação, o sangue lhe escorria pela cabeça, e provavelmente havia quebrado a perna.

Hanako: Ai...

Kaori: Hanako!

Hanako: K-Kaori-san!

Kaori rapidamente a localiza e tenta ir até ela. Kisuke, no meio do apartamento, olha para os lados em frenesi.

"Onde está!? ONDE!?"

Ele desfera uma nova patada contra um dos móveis, que sai voando e destrói ainda mais o apartamento, impedindo Kaori de alcançar Hanako.

Kaori: Hanako-chan!

Hanako se protegia como conseguia, mas não conseguia ficar de pé.

Hanako: Socorro!

Kisuke continuava descontrolado como um touro em rodeio pelo apartamento, destruindo mais coisas, Kaori, já sangrando e cheia de feridas também, se protege dos objetos errantes que, para ela, aparentemente eram arremessados sem explicação.

Kaori: Hanako-chan!

Ela finalmente encontra a garotinha, e corre até ela, mancando pois a sua perna doía bastante.

Kaori: Hanako-chan!

Fazendo um grande esforço, ela retira uma mesa que estava no caminho, e estende a mão, tentando alcançar a garota.

Kaori: Me dá a sua mão, anda!

Hanako se estica também, só que a televisão voa de encontro à parede entre as duas, o que obriga Kaori a recuar mais uma vez,e o gás do fogão causa uma explosão e incendeia o lugar rapidamente.

Kaori: Hanako-chan!

No meio da confusão, Kisuke finalmente localiza... Não era Kaori, mas a sensação que ela passava era igual. A pequena e indefesa Hanako no chão lhe parecia agora como uma refeição completa.

"Ali... Eu encontrei!"

Apesar de não ver nada, Hanako pôde ouvir alguma coisa caminhar sobre os entulhos, e se assusta ainda mais quando uma mesa, que estava no caminho, portanto Kisuke a moveu, para ela, aparentemente parece ser empurrada por uma força invisível. Kisuke fica bem de frente para ela, Kaori pode ver a garota, mas não entendia o que ela estava olhando. É então que acontece... Kisuke vira uma forte patada que arremessa sua pequena irmã com brutalidade até uma parede. Assim que se choca, o corpo de Hanako cai para um lado, e seu espírito, preso por uma corrente ao corpo, cai para o outro.

Kaori: HANAKO-CHAN!!!

Hanako, com alguma dificuldade, começa a se levantar, mas por alguma razão não podia sentir mais nenhum de seus ferimentos, ela estava bem... Ou de uma certa maneira "bem". Olhar para o lado e ver o seu próprio corpo foi o maior choque para ela.

Hanako: O que é aquilo!?

Mais uma explosão, e o apartamento agora já estava praticamente todo em chamas. Hanako ouve um som estranho, e então por uma das labaredas ela vê... Era um monstro de máscara branca... E ele caminhava em sua direção sobre suas quatro monstruosas patas.

Hanako: O-O que é isso!?

Kisuke nem tinha mais pressa, saboreava cada momento da refeição por vir...

"Delicioso... Simplesmente delicioso... Eu quero comer!"

Ele dá um rugido para ela.

Hanako: Um monstro!?

A garota rapidamente recua.

Hanako: Não chegue perto!

Ela tenta correr, mas Kisuke a acerta mais uma vez, derrubando-a. Enquanto isso, Kaori finalmente havia alcançado o corpo da garotinha, e o segurava desesperada.

Kaori: Hanako-chan... Fala comigo, anda...

Ela nem ao menos podia ver que o espírito de Hanako era quem estava com problemas. Ela se arrastava, tentando fugir.

Hanako: S-Socorro...

Kisuke anda lentamente até ela, ela se vira, ainda se arrastando para fugir dele.

Hanako: Não...

Kisuke coloca a pata sobre ela, para que como um rato preso, ela não pudesse mais fugir.

Hanako: Não... Por favor...

"Isso... É esse desespero... Esse medo... Eles me dão mais fome ainda!"

Ele abre a boca, preparando-separa a refeição.

Hanako: Socorro... Alguém...

Ele se aproxima dela, a primeira dentada era sempre a melhor.

Hanako: Oni-chan...

Faltava pouco agora...

Hanako: Oni-chan! Socorro!!!

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Kisuke havia parado... Antes da primeira mordida, havia parado...

"Ha... Hanako..."

Hanako abre os olhos e pode ver que o monstro havia parado, era estranho, era como se ele simplesmente houvesse congelado. Seu instinto gritava com ele, cada fibra no corpo de Kisuke demandava que ele terminasse o trabalho... Mas alguma coisa o segurava.

"Eu... Eu não posso..."

Os dentes se aproximam cada vez mais de Hanako, que mais uma vez fecha os olhos.

"Eu não posso!"

Lenta e forçosamente, como se contra a própria vontade, a criatura começa afastar a mandíbula de Hanako.A garota, surpresa mais uma vez, olha para o monstro, que gentilmente retira a pata de cima dela. Era estranho... Era a primeira vez que ele se acalmava tanto desde que havia se transformado em um hollow.

"Quanta fome... Eu quero comer essa coisa... Então por quê...?"

Por trás da máscara, Hanako consegue contemplar pela primeira vez os olhos do atacante, mas eles haviam mudado, a sua expressão agora parecia tão triste...

"Ele parece... Ele parece tão triste..."

Os dois continuam a se encarar por um tempo.

"Por quê...?"

A criatura que Kisuke era não conseguia mais falar, mas do mesmo jeito, ele não precisa abrir a boca para que um som compreensível acabe saindo... Como se uma pessoa falasse por trás da máscara...

Kisuke: Por que eu não consigo te matar...?

Apesar da voz ter saído rouca e um tanto quanto monstruosa, do mesmo jeito Hanako podia identificar de quem era...

Hanako: Oni-chan...

Kisuke a encara por ainda mais alguns instantes, de repente, a lateral de seu corpo começa a espirrar sangue, fora um corte tão rápido que nem ele mesmo vira. Ele olha para o lado e vê uma pessoa, um shinigami, já com a espada desembainhada, pronto para atacá-lo.

Shinigami: Se afaste hollow!

Seus instintos voltando à ativa, Kisuke dá um rugido para ele, mas sendo mais inteligente que a maioria dos hollows, algo lhe diz que era melhor sobreviver para lutar outro dia, então ele bate em disparada, arrebentando mais uma parede.

Hanako: Oni-chan!

Kisuke consegue rapidamente ganhar distância do lugar. Ele ainda pára para contemplar mais uma vez de onde havia vindo, agora só um brilho no meio da noite por causa das chamas que incendiavam o apartamento, e sem se demorar muito, torna a correr de volta para a escuridão...

Hanako estava sentada numa cama de hospital, o braço enfaixado e o corpo cheio de curativos, ela olhava pela janela, admirando a noite tranqüila na cidade. Kaori de repente entra no quarto.

Kaori: Hanako-chan!

Hanako se surpreende com a repentina entrada da amiga, também coberta por curativos. Kaori vai rapidamente até ela.

Kaori: Graças a deus... Você tá bem?

Diz Kaori segurando a sua mão e acariciando seus cabelos, Hanako sorri.

Hanako: Hm... Ainda dói um pouco, mas eu estou bem. O médico disse que é bom eu ficar aqui por uma semana mais ou menos antes de voltar ao normal, mas que eu não me machuquei permanentemente.

Kaori: Que bom...

Kaori sorri aliviada.

Hanako: Já sabem o que aconteceu?

Kaori: Estão suspeitando que um tubo de gás tenha rompido em algum lugar e uma faísca causou a explosão, mas ninguém ainda tem certeza de nada. Até porque foi muito estranho...

Diz ela se lembrando dos móveis voando sozinhos pelo lugar.

Kaori: Mas eu estou feliz... Pelo menos você tá bem... Eu não sei o que eu ia fazer se te perdesse...

Hanako: Eu... Eu não me lembro muito bem do que aconteceu depois que eu desmaiei, mas...

Ela torna a olhar pela janela.

Hanako: Tem alguma coisa me dizendo que vai ficar tudo bem... Nós vamos ficar bem...

Sentado no alto de uma colina, observando a cidade, o hollow Kisuke parecia estranhamente pensativo.

"Por quê... Por que eu não consegui matar ela...?"

Ele abaixa a cabeça, sem compreender as próprias ações... De repente, uma sensação toma conta dele, eram seus instintos... Aquela sensação estava de volta. Plus... Havia algum Plus por perto...

"Que seja... Isso não me interessa mais..."

Ele começa a andar na direção da qual aquilo vinha... Sua próxima refeição.

"Agora... Para o próximo..."

E Kisuke retoma seu caminho, pois era isso que fazia agora... Era isso que era... Um monstro na noite... Apenas uma assombração. Mas não mais apenas um hollow, não mais... Pois agora havia algo que o tornava diferente...

Fim...